Dr.Fabiano Rebouças
RESUMO
Os autores analisam os resultados obtidos no tratamento cirúrgico das instabilidades anteriores de 88 ombros, com seguimento médio de 3 anos (1 ano – 5 anos). Setenta e quatro pacientes eram do sexo masculino e quatorze do sexo feminino. A idade média foi de 26 anos (15anos - 54anos). O lado dominante foi o acometido em sessenta e seis pacientes. A técnica utilizada nas cirurgias foi a reinserção da lesão de Bankart com âncoras, mais capsuloplastia anterior preconizada por Neer quando necessário. Os resultados pós-operatórios foram 86,3% excelente, 8% bom, 2,2% regular, 3,4% mau, segundo método de avaliação de G.WALCH e GRUPO DUPLAY. Baseados nos resultados, os autores recomendam este procedimento nos pacientes com instabilidade anterior do ombro.
SUMMARY
The authors analyse surgical treatment results of shoulder anterior instability in 88 shoulders, with median follow up of 3 years (range of 1 – 5 years). Seventy-four patients were men, and fourteen were women. Median age was 26 (range of 15 - 54 years ). Dominant side happened in 66 patients. The surgical procedure was performed reattaching the Bankart lesion to the glenoid using anchors, and anterior capsuloplasty by Neer when necessary. Results after surgery were 6,3% excellent, 8% good, 2,2% regular, 3,4% bad, following G.WALCH and DUPLAY GROUP valuation method. According to the results, authors approved this procedure in cases of shoulder anterior instability.
INTRODUÇÃO
A luxação da articulação glenoumeral é mais freqüente do que qualquer outra do corpo, dado a fatores anatômicos, biomecânicos, funcionais e espaciais. Dentro de suas etiologias traumáticas, atraumáticas e adquiridas, a luxação anterior é sem dúvida a mais freqüente.
Atualmente há dados na literatura que contribuem para a melhor compreensão das características epidemiológicas, clínicas e anatômicas das estruturas envolvidas, as quais levam na direção da melhor conduta terapêutica.
O tratamento cirúrgico é a opção frente à falha do tratamento conservador.
O objetivo é a avaliação consecutiva de pacientes na população em geral com instabilidade anterior do ombro com, no mínimo, um ano de seguimento pós-operatório, quanto à estabilidade funcional e mecânica, segundo a ficha de avaliação de G. Walch e Grupo Duplay.
CASUÍSTICA E MÉTODO
Foram avaliados 88 casos pós-operatórios de instabilidade anterior do ombro com seguimento médio de 3 anos (1 – 5 anos). A etiologia da luxação primária foi traumática (50 casos), atraumática (38 casos). A idade média foi de 26 anos (15 – 54 anos), sendo 74 do sexo masculino e 14 do sexo feminino.
Estes casos foram selecionados para tratamento cirúrgico após a falha do tratamento conservador com a presença de dor, testes para instabilidade anterior positivos (Teste da apreensão anterior e “Relocation Test”) e artroressonância nuclear magnética com a presença de lesão de Bankart.
O tratamento cirúrgico realizado constituiu de reinserção da lesão de Bankart com âncoras, mais capsuloplastia anterior preconizada por Neer quando necessário, isto é, quando havia uma frouxidão capsular ântero-inferior.
O tratamento pós-operatório seguiu um programa padrão de reabilitação, iniciando com movimentos pendulares já no primeiro dia pós-operatório. A tipóia foi usada por 6 semanas ( 3 semanas continuamente). Nas primeiras 4 semanas é orientado a elevação 90o e rotação externa 30o. Entre a quarta e sexta semanas é permitido a elevação de 160o, rotação externa 40o e são iniciados exercícios isométricos contra resistência. Após a sexta semana a elevação deve ser total e a rotação externa chegar a 50o . Com 12 semanas a amplitude de movimentos deve ser total. O retorno aos esportes é permitido após 6 meses.
O método de avaliação utilizado foi a ficha de cotação de G. Walch e Grupo Duplay :
1) Cadastro
-Tipo de prática de esporte C= competição / L= lazer / N= não pratica
-Tipo de esporte 0 = não pratica
1= sem risco
2= de contato
3= com força
4= força contrária / alto risco
-Lado D= dominante / ND= não dominante
2) Valor Funcional do ombro
-ESPORTE retornou ao mesmo nível +25 pontos
dentro do mesmo esporte (nível abaixo) +15 pontos
Mudou de esporte +10 pontos
Parou esportes 0 pontos
-ESTABILIDADE sem apreensão +25 pontos
persiste apreensão +15 pontos
sensação de instabilidade 0 pontos
recidiva da luxação -25 pontos
-DOR sem dor +25 pontos
com dor -25 pontos
-MOBILIDADE *abdução total e rotação interna com
limitação < 3 vértebras / limitação da
rotação externa < 10% (comparativa) ..........+25 pontos
*abdução < 150o / rotação interna com
limitação < 3 vértebras / limitação da
rotação externa < 30% (comparativa) ......... +15 pontos
*abdução < 120o / rotação interna com
limitação < 6 vértebras / limitação da
rotação externa < 50% (comparativa) ......... +5 pontos
*abdução < 90o / rotação interna com
limitação > 6 vértebras / limitação da
rotação externa > 50% (comparativa) ......... 0 pontos
TOTAL
91 a 100 pontos == EXCELENTE
76 a 90 pontos == BOM
51 a 75 pontos == MÉDIO
50 ou menos pontos == MAU
RESULTADOS
O quadro 1 sintetiza a avaliação dos resultados obtidos no estudo dos pacientes examinados.
Dos 86 pacientes (88 ombros) submetidos à avaliação pós-operatória, 86,3% tiveram resultado excelente, 8% bom, 2,2% regular, 3,4% mau O entendimento dos fatores estabilizadores do ombro (estáticos e dinâmicos) tem papel fundamental no tratamento das instabilidades glenoumerais.
Entre os estabilizadores estáticos destaca-se o labrum que é capaz de aumentar a profundidade da fossa glenoidal em até 50%. Entre os estabilizadores dinâmicos destaca-se o complexo ligamentar glenoumeral inferior, em especial sua porção anterior.
Na instabilidade anterior do ombro, ocorre a avulsão do labrum do rebordo glenoidal ântero-inferior, em conjunto com o ligamento glenoumeral inferior anterior (Lesão de Bankart).
O tratamento inicial deve ser conservador, com fisioterapia para fortalecimento da musculatura rotadora interna.
O tratamento cirúrgico é indicado frente à persistência de dor, incapacidade profissional ou esportiva, apreensão, subluxações ou luxações recorrentes.
Atualmente existem várias técnicas para o tratamento das instabilidades do ombro. A técnica de Bankart preconiza principalmente a abordagem da lesão e a reconstrução da anatomia, item pouco considerado em outras técnicas.
CONCLUSÃO
O tratamento cirúrgico pela técnica de Bankart, para os pacientes com instabilidade anterior do ombro é eficaz.