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Artigos e entrevistas
  • Como foi sua escolha pela medicina?

R: Acredito que esta escolha tenha acontecido durante toda a vida, e depois, amadurecido na reta final do último ano escolar. Sempre fui curioso sobre o corpo humano e me interessava em livros de anatomia, filmes que envolviam áreas médicas, documentários etc. Depois que comecei a faculdade, descobri que era isto mesmo que queria: estudar muito e cuidar das pessoas.

  • Quando você teve clareza que escolheria ortopedia como especialidade? O que influiu mais?

R: Desde que iniciei a faculdade de medicina, fiquei fascinado pela disciplina de Anatomia, onde tínhamos não só aulas teóricas, mas também práticas com dissecações de cadáveres. Nestes laboratórios de dissecações, na verdade, é onde realizamos nossas primeiras “cirurgias”, para estudar a fundo cada detalhe do corpo humano. Achei fascinante! Em todas as áreas da medicina temos que ter o conhecimento da anatomia básica, mas na Ortopedia, este conhecimento deve ser profundo, em especial sobre o esqueleto humano.

  • Medicina e interdisciplinaridade: com que profissionais você gostaria de contar sempre para o tratamento de seus pacientes?

R: O ortopedista precisa ter sempre um ou mais fisioterapeutas de confiança. São eles que reabilitam e devolvem os pacientes para suas rotinas. São eles que dizem ao ortopedista suas dificuldades e suas percepções sobre a doença em tratamento. Eles acabam ficando em contato prolongado com o paciente durante as sessões de fisioterapia e, muitas vezes, acabam sabendo detalhes que podem ajudar no tratamento, quando passados ao médico. Gosto de receber informações detalhadas sobre o andamento da recuperação dos pacientes, e por isso, sempre passo meus meios de contato! Acompanho também de longe!

  • Cirurgia: qual o apelo da cirurgia? Como você compararia sua relação com a cirurgia com a da “solução de quebra-cabeças” do atendimento não cirúrgico?

R: Sigo sempre a seguinte regra: “cirurgia só quando extremamente necessária”! Existem riscos dos tratamentos “cirúrgicos” e também “não cirúrgicos” quando mal indicados. O acompanhamento de perto é fundamental para o sucesso de cada um destes tratamentos.

  • Grupos especiais: você acha que tem preferência para lidar com algum grupo especial?

R: Gosto de tratar qualquer tipo de paciente, mas se tivesse que optar: idosos e esportistas.

  • “O atleta é o melhor e o pior paciente” (sua frase, uns 10 anos atrás) – o que você acha hoje da sua frase? Quais as especificidades do paciente atleta?

R: Continuo dizendo esta frase! O atleta é o melhor paciente, pois está “acostumado” a lidar com a dor, e assim, ajuda no tratamento cirúrgico ou de reabilitação para ficar bem o mais rápido possível. Ele quer agilidade no tratamento, bem como o ortopedista. Sobre ser o “pior paciente”, digo isto, pois muitas vezes escondem informações valiosas, para o retorno precoce às suas atividades esportivas. As vezes retornam ao esporte mesmo sem a autorização médica, e nestes casos, o médico é o último a saber. Geralmente ficamos sabendo quando já está tudo certo, ou quando deu alguma coisa errada!

  • O que mais satisfaz e o que mais frustra ou angustia na ortopedia?

R: O que mais me satisfaz é o sorriso e o “obrigado doutor” no final do tratamento. É um prazer inexplicável dar alta para um paciente. A angústia vem quando as coisas não caminham do jeito que se esperava. Tinha um professor que dizia: “só não tem complicação quem não opera”, e “é na complicação que você conhece um bom médico”.

  • Como você vê a evolução da ortopedia hoje? Quais as tendências mais importantes e onde você aposta as suas fichas?

R: A ortopedia evoluiu muito nos últimos 20 anos. Quando me formei a artroscopia (cirurgia por vídeo) ainda “engatinhava”. Hoje é uma grata realidade. O pós-operatório sem dor, ou melhor, com bem menos dor do que na cirurgia aberta, é incrível. Em poucos dias, dependendo da cirurgia, parece que o paciente nem foi operado. O paciente nem imagina a quantidade de procedimentos que realizamos na articulação pelos “furinhos”. Acredito que foi a principal evolução das cirurgias ortopédicas e também nas outras especialidades que realizam cirurgias por vídeo. A tendência é a evolução progressiva destas cirurgias menos invasivas.

  • Ortopedia e sociedade: o que os ortopedistas (ou você) gostariam de transformar nos ambientes públicos, nas práticas sociais (trânsito, ergonomia no trabalho, etc), na alimentação e outros hábitos para que existam menos casos ortopédicos? (evitar acidentes, objetos de escritório melhores, alimentação saudável para que o sobrepeso cause lesões, etc?)

R: Ultimamente a mídia exalta erros médicos, denúncias de corrupção médica etc, e deixa de comentar que a maioria dos médicos são idôneos e fazem sua parte, exercem a verdadeira medicina como sacerdócio. Esquecem, ou não querem dizer, o quanto ganhamos em uma cirurgia complexa paga pelos convênios ou SUS. Me sinto constrangido com o modo que somos tratados nestas divulgações, sem direito a resposta na maioria das vezes, e como certas denúncias são expostas para a população. Já perdemos o respeito de antigamente. Tenho medo do futuro da medicina no Brasil.

  • Risco, qualidade psicológica de vida e recomendações: como equilibrar isso? A maioria dos atletas tem medo de ortopedista pelo excesso de zelo com riscos e consequentes proibições de atividades. O que você acha disso?

R: Tudo depende do grau de confiança que o paciente tem pelo seu médico. Isto nem sempre é rapidamente conquistado. Para que isto ocorra, é necessária uma aproximação entre ambos, mas atualmente existe um verdadeiro abismo. Um não quer se aproximar do outro, não existe mais parceria, franqueza e até conversa. Entendo que ambos se beneficiam com a proximidade e cumplicidade.

  1. 1. A lesão esportiva (geral)
  • Em termos bem gerais, o que é uma lesão músculo-esquelética?

R: É uma lesão por trauma direto ou indireto do aparelho locomotor, ocasionando contusão, estiramento ou laceração muscular. Podem ser de intensidade e extensão variadas.

  • Fora sinais muito óbvios (parte exposta de uma fratura, por exemplo), no que um atleta deve prestar atenção para identificar uma lesão? Dor “do bem” e dor “do mal”, como diferenciar uma da outra?

R: Deve-se ter maior atenção com dores persistentes (maior que 24hs), dores limitantes (não conseguir apoiar o pé no chão para andar, ou elevar o braço, por exemplo), edemas articulares ou musculares, aumento da temperatura e/ou vermelhidão no local.

  • O que fazer no caso de uma lesão aguda? Qual a melhor orientação para quem está em volta e pode ajudar? O que não se deve fazer nunca?

R: O ideal, em lesões fechadas, é a realização de compressas de gelo no local e realizar imobilização provisória até que o médico avalie. Manter o membro elevado também pode ajudar para que o membro não inche. Evite garrotear o local, e em casos de ferimentos, apenas comprima o local para estancar o sangramento. Em casos de dores musculares ou articulares agudas suspenda atividade física imediatamente.

  • O que favorece e o que ajuda a prevenir a ocorrência de lesões esportivas?

R: Antes da atividade esportiva deve-se aquecer bem o corpo todo (e não só o membro a ser mais utilizado) e alongar levemente. Após a atividade deve-se alongar um pouco mais intensamente. Começar a atividade esportiva com intensidade leve e aumentar gradativamente, também pode ajudar a preparar o corpo para atividades mais fortes.

  1. 2. Contraturas
  • O que são contraturas? Por que acontecem?

R: É quando o músculo se mantém contraído involuntariamente ocasionando dor local. Pode ocorrer após atividade intensa ou mesmo após movimento brusco. É popularmente chamado de “mau jeito”.

  • Como podemos prevenir ?

R: Pode-se evitar que ocorram com alongamentos leves antes das atividades esportivas ou mesmo cotidianas.

  • Como são tratadas as contraturas?

R: O tratamento depende do grau da contratura. Em casos mais graves deve-se imobilizar até que o músculo relaxe. O uso de medicamento anti-infamatório deve ser sempre acompanhado de algum medicamento relaxante muscular. A fisioterapia também pode ajudar com medidas físicas (massagens, calor, estimuladores, alongamentos suaves) para que o músculo retorne ao seu estado normal.

  1. 3. As lesões musculares com ruptura de tecido
  • Quais são os graus de gravidade das lesões musculares?

R: São classificadas em leves, moderadas e graves. Nas leves temos a lesão de apenas algumas fibras musculares, com apenas desconforto e dor leve local. Nas moderadas, temos um dano maior ao músculo, com maior limitação da sua função. Nas severas, nota-se um “gap” visível ou palpável pela ruptura completa das fibras musculares, com importante déficit da função.

  • Como é a recuperação não cirúrgica de uma lesão muscular? O que é uma fibrose? Elas sempre se formam?

R: Vai depender do grau da lesão muscular e pode variar muito de pessoa para pessoa. Geralmente usamos a seguinte regra: nas leves, evitar atividade esportivas por 3 semanas, nas moderadas 6 semanas e nas graves 12 semanas.

  • Quais as principais medidas para evitar estas lesões?

R: Aquecimento intenso e alongamento leve antes da atividade esportiva, principalmente nas atividades competitivas.

  • Quais os fatores mais associados à ocorrência de lesões?

R: Existem vários fatores: desconcentração, desconhecimento da atividade, falta de aquecimento e/ou alongamento, stress, fatores biológicos (fraqueza, anemia, osteoporose etc).

  • O que é a junção mio-tendínea e como são as lesões nesta região?

R: É a transição entre o músculo e o tendão. O músculo é quem tem a conexão com o cérebro através dos nervos, e é quem faz a força, que é transmitida ao osso pelo tendão. A transição ou junção mio-tendínea é uma zona de fraqueza, onde podem ocorrer as lesões musculares, em especial as traumáticas.

  1. 4. Os tendões
  • Quais as principais lesões e patologias nos tendões?

R: A principal e mais freqüente são as tendinites, que com o tempo podem se tornar lesões parciais e até totais (completas) com o desligamento (desconexão) do músculo com o osso.

  • Que sinais indicam que há uma inflamação em algum tendão?

R: O primeiro sinal é dor. Depois vem fraqueza e limitação das funções.

  • Tendão cicatriza? De que forma?

R: Sim, os tendões podem cicatrizar. Muitas vezes perdem suas características biológicas e funcionais, mas que podem ser recuperadas com o processo de reabilitação fisioterápico.

  • Em geral, quais os procedimentos nos casos de tendinites?

R: Tratamos as tendinites com mudanças de hábitos e atividades esportivas (permanentes ou temporárias). Realizamos fortalecimentos e alongamentos progressivos para evitar a evolução da infamação e possível ruptura. Medidas analgésicas como medicações e gelo também ajudam na recuperação.

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